Primeiro-ministro Abdallah Hamdok e outras autoridades foram detidas. General que comandava conselho de transição decretou estado de emergência no país e dissolveu o conselho e o governo
Por Octavio Neto
Fonte: G1.com
09/11/2021
Militares deram um golpe
de Estado no Sudão nesta segunda-feira (25) e prenderam o primeiro-ministro
interino, Abdallah Hamdok, e outras autoridades. Em resposta, milhares
de pessoas saíram às ruas da capital Cartum e a vizinha Omdurman para protestar
contra o golpe militar.
Abdel Fattah
al-Burhan, general que chefiava o Conselho Soberano, fez um pronunciamento
oficial na TV estatal e anunciou estado de emergência
em todo o país e dissolveu o próprio conselho e o governo de transição,
que era comandado por Hamdok.
O Conselho Soberano
foi criado há dois anos, após a saída de Omar al-Bashir (ditador que caiu em
meio a protestos depois de governar por três décadas). Ele era formado por civis
e militares que frequentemente discordavam sobre o futuro do país e o ritmo da
transição para a democracia.
As prisões, o
estado de emergência e a dissolução do conselho ocorrem perto da data em que o
general Abdel-Fattah Burhan teria de entregar a liderança do Conselho Soberano
a um civil.
Burhan afirmou que disputas
entre facções políticas levaram os militares a intervir e que os
militares nomearão um governo para comandar o país até as eleições, marcadas
para julho de 2023. Mas deixou claro que os militares permanecerão no comando:
“As Forças
Armadas continuarão a completar a transição democrática até que a liderança
do país seja entregue a um governo civil eleito”, afirmou o general, que também
disse que a Constituição do país será reescrita.
Antes mesmo do
pronunciamento, milhares de pessoas saíram às ruas de Cartum e Omdurman para
protestar contra o golpe, bloquearam vias e incendiaram pneus, enquanto forças de segurança
usaram gás lacrimogêneo para dispersá-los
A TV Al-Arabiya diz que várias pessoas ficaram feridas após manifestantes e soldados
entrarem em confronto perto de quartéis na capital. Um
comitê de médicos local afirma que ao menos 12 pessoas ficaram feridas em
confrontos.
O Sudão é o terceiro maior país da África e tem um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo.
Transição interrompida e reação internacional
O local para onde Hamdok foi levado não foi informado, e ministros e membros do Conselho Soberano também foram detidos. O governo já havia sofrido uma tentativa de golpe em 21 de setembro.
A tomada de poder
pelos militares é um grande revés para o Sudão, que tentava uma transição para
a democracia desde a saída do ditador Omar al-Bashir, que governou entre 1989 e
2019.
O presidente da União
Africana pediu em um comunicado que os líderes políticos do Sudão sejam soltos.
A ONU, os Estados Unidos e a União Europeia expressaram
preocupação com os acontecimentos desta segunda.
Jeffrey Feltman, o
enviado especial dos EUA para a região, disse que o governo americano está
"profundamente alarmado" com a notícia. Feltman havia se reunido com autoridades sudanesas no fim de
semana para tentar resolver a crescente disputa política entre líderes civis e
militares.
A porta-voz da Casa
Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que o governo dos EUA "rejeita as
ações dos militares e pede a libertação imediata do primeiro-ministro e de
outros que foram colocados em prisão domiciliar".
O chefe de relações
exteriores da União Europeia, Joseph Borrell, afirmou que está acompanhando os
eventos no Sudão com "a maior preocupação". Volker Perthes,
representante da ONU, afirmou que a entidade está "profundamente
preocupada com relatos
de um golpe em curso no Sudão".
Aeroporto fechado e TV invadida
O aeroporto de Cartum foi fechado e os voos foram suspensos, segundo a TV Al-Arabiya. A internet na capital do Sudão foi cortada.
O Ministério da
Informação afirmou que militares invadiram a sede da televisão estatal do país,
na cidade de Omdurman (na região metropolitana de Cartum), e prenderam
funcionários da emissora.
A Associação de
Profissionais do Sudão (SPA), principal grupo responsável pelos protestos
contra o então ditador Omar al-Bashir, convocou greve geral e desobediência
civil contra o golpe militar de hoje.
"Convocamos as
massas para que saiam às ruas e as ocupem, fechem todas as estradas com
barricadas, façam uma greve geral, não cooperem com os golpistas e usem a
desobediência civil para enfrentá-los”, disse o grupo em um comunicado.
O Sudão
O Sudão é o terceiro
maior país da África, depois da Argélia e da República Democrática do Congo, e
tem cerca de 42 milhões de habitantes (uma população similar à da Argentina).
Sua capital é Cartum, e a religião predominante é o Islã.
É
na capital Cartum que os rios Nilo Branco e Nilo Azul se encontram e formam o
rio Nilo, que continua seu curso pelo Egito até desaguar no Mar
Mediterrâneo.
O país fica entre a
África Subsaariana e o Oriente Médio, faz fronteira com sete países (Egito,
Líbia, Chade, República Centro-Africana, Sudão do Sul, Etiópia e Eritreia) e
tem saída para o Mar Vermelho.
O
seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,510, um dos mais baixos do
mundo,
e seu PIB (Produto Interno Bruto) é de US$ 32 bilhões. A expectativa de vida
dos sudaneses é de 65 anos, e quase um quinto da população vive abaixo da linha da pobreza.
Até 2011, o Sudão era o maior país da África e do mundo árabe, mas o Sudão do Sul se separou e se tornou independente após um referendo.
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