quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Militares dão golpe de Estado no Sudão e prendem premiê interino do país; manifestantes protestam

Primeiro-ministro Abdallah Hamdok e outras autoridades foram detidas. General que comandava conselho de transição decretou estado de emergência no país e dissolveu o conselho e o governo

Por Octavio Neto

Fonte: G1.com

09/11/2021

 

Militares deram um golpe de Estado no Sudão nesta segunda-feira (25) e prenderam o primeiro-ministro interino, Abdallah Hamdok, e outras autoridades. Em resposta, milhares de pessoas saíram às ruas da capital Cartum e a vizinha Omdurman para protestar contra o golpe militar.

Abdel Fattah al-Burhan, general que chefiava o Conselho Soberano, fez um pronunciamento oficial na TV estatal e anunciou estado de emergência em todo o país e dissolveu o próprio conselho e o governo de transição, que era comandado por Hamdok.

O Conselho Soberano foi criado há dois anos, após a saída de Omar al-Bashir (ditador que caiu em meio a protestos depois de governar por três décadas). Ele era formado por civis e militares que frequentemente discordavam sobre o futuro do país e o ritmo da transição para a democracia.

As prisões, o estado de emergência e a dissolução do conselho ocorrem perto da data em que o general Abdel-Fattah Burhan teria de entregar a liderança do Conselho Soberano a um civil.

Burhan afirmou que disputas entre facções políticas levaram os militares a intervir e que os militares nomearão um governo para comandar o país até as eleições, marcadas para julho de 2023. Mas deixou claro que os militares permanecerão no comando:

“As Forças Armadas continuarão a completar a transição democrática até que a liderança do país seja entregue a um governo civil eleito”, afirmou o general, que também disse que a Constituição do país será reescrita.

Antes mesmo do pronunciamento, milhares de pessoas saíram às ruas de Cartum e Omdurman para protestar contra o golpe, bloquearam vias e incendiaram pneus, enquanto forças de segurança usaram gás lacrimogêneo para dispersá-los

A TV Al-Arabiya diz que várias pessoas ficaram feridas após manifestantes e soldados entrarem em confronto perto de quartéis na capital. Um comitê de médicos local afirma que ao menos 12 pessoas ficaram feridas em confrontos.

O Sudão é o terceiro maior país da África e tem um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo.

População ergue bandeiras do Sudão ao lado de um bloqueio com tijolos durante uma manifestação na capital Cartum, em 25 de outubro de 2021, contra o golpe militar Foto: AFP

Transição interrompida e reação internacional

O local para onde Hamdok foi levado não foi informado, e ministros e membros do Conselho Soberano também foram detidos. O governo já havia sofrido uma tentativa de golpe em 21 de setembro.

A tomada de poder pelos militares é um grande revés para o Sudão, que tentava uma transição para a democracia desde a saída do ditador Omar al-Bashir, que governou entre 1989 e 2019.

O presidente da União Africana pediu em um comunicado que os líderes políticos do Sudão sejam soltos. A ONU, os Estados Unidos e a União Europeia expressaram preocupação com os acontecimentos desta segunda.

Jeffrey Feltman, o enviado especial dos EUA para a região, disse que o governo americano está "profundamente alarmado" com a notícia. Feltman havia se reunido com autoridades sudanesas no fim de semana para tentar resolver a crescente disputa política entre líderes civis e militares.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que o governo dos EUA "rejeita as ações dos militares e pede a libertação imediata do primeiro-ministro e de outros que foram colocados em prisão domiciliar".

O chefe de relações exteriores da União Europeia, Joseph Borrell, afirmou que está acompanhando os eventos no Sudão com "a maior preocupação". Volker Perthes, representante da ONU, afirmou que a entidade está "profundamente

preocupada com relatos de um golpe em curso no Sudão".

 

Aeroporto fechado e TV invadida

 O aeroporto de Cartum foi fechado e os voos foram suspensos, segundo a TV Al-Arabiya. A internet na capital do Sudão foi cortada.

O Ministério da Informação afirmou que militares invadiram a sede da televisão estatal do país, na cidade de Omdurman (na região metropolitana de Cartum), e prenderam funcionários da emissora.

A Associação de Profissionais do Sudão (SPA), principal grupo responsável pelos protestos contra o então ditador Omar al-Bashir, convocou greve geral e desobediência civil contra o golpe militar de hoje.

"Convocamos as massas para que saiam às ruas e as ocupem, fechem todas as estradas com barricadas, façam uma greve geral, não cooperem com os golpistas e usem a desobediência civil para enfrentá-los”, disse o grupo em um comunicado.

 

O Sudão

 

O Sudão é o terceiro maior país da África, depois da Argélia e da República Democrática do Congo, e tem cerca de 42 milhões de habitantes (uma população similar à da Argentina). Sua capital é Cartum, e a religião predominante é o Islã.

É na capital Cartum que os rios Nilo Branco e Nilo Azul se encontram e formam o rio Nilo, que continua seu curso pelo Egito até desaguar no Mar Mediterrâneo.

O país fica entre a África Subsaariana e o Oriente Médio, faz fronteira com sete países (Egito, Líbia, Chade, República Centro-Africana, Sudão do Sul, Etiópia e Eritreia) e tem saída para o Mar Vermelho.

O seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,510, um dos mais baixos do mundo, e seu PIB (Produto Interno Bruto) é de US$ 32 bilhões. A expectativa de vida dos sudaneses é de 65 anos, e quase um quinto da população vive abaixo da linha da pobreza.

Até 2011, o Sudão era o maior país da África e do mundo árabe, mas o Sudão do Sul se separou e se tornou independente após um referendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Proposta de homenagem a Bolsonaro gera polêmica na Itália

Presidente pode receber título de cidadão honorário de vilarejo italiano onde nasceu seu bisavô. Mas políticos locais, religiosos e ativista...